Sou uma daquelas pessoas que teve uma infância extremamente feliz. Mas as memórias que adicionam magia à minha feliz existência de criança foram as criadas e vividas num lugar junto a uma estrada, O Lugar da Estrada. Era um mês onde o único brinquedo que trazia comigo era a bicicleta. O resto era fabricado conforme a necessidade. As espadas eram feitas de canas, os capacetes eram compostos por garrafões de água, os castelos erguiam-se com redes de pesca e a carroça era o carrinho atrelado da Famel do meu tio. O importante era a bicicleta, pois assim poderia atravessar os vários reinos, passar pelo castelo assombrado do monstro Gato Preto e ir quase até ao fim do mundo.

     Sabendo que não é possível captar memórias de momentos e pessoas pela objectiva de uma câmera quis, ao menos, procurar mostrar o ambiente do local onde tudo se passou, pois esse ainda existe.

Considero que as memórias são sucessões de cenas que formam um conjunto que queremos conservar connosco, muito à semelhança dos fotogramas de um filme, e para sugerir ás pessoas o meu modo de ver usei o formato panorâmico do cinema.