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Crônicas de um dia cinzento

Eram 7h da manhã de uma segunda-feira chuvosa. Do alto do prédio era possível observar o movimento de mais um dia no centro desta grande cidade. Barulho de carros, de construções, de chuva. A cidade acorda cedo e com ela todos os trabalhadores que precisam buscar o seu sustento e sabem se lá de quantos mais.
Algumas pessoas se locomovem de carro, outros de transporte coletivo, outros de bicicleta, outros a pé. Cada um em seu universo carregando suas reticências, suas dores, suas alegrias, suas histórias. Através desses múltiplos acontecimentos a vida vai seguindo seu curso. É mais um dia de trabalho e à medida que o tempo passa, a cidade se acelera.
Não é preciso observar muito para fazer algumas constatações. Haviam tratores, caminhões e pessoas que estavam trabalhando na chuva. Com o passar dos dias, foi possível perceber que isso era uma rotina. Faça chuva ou faça sol. Qualquer olhar mais atento para a labuta da cidade prontamente compadecia da situação. São muitos os riscos de expor a esta situação, desde doenças a incidentes no trabalho.
Quando o relógio corre em direção às 12h, já se percebe um agito diferente. Ao andar pelas ruas do centro já não é o mesmo ânimo. Alguns rostos mais cansados, outros mais atarefados, alguns ansiosos, outros mais despreocupados. Em frente a esta mesma construção, desta vez vista da rua, a situação era outra. Pude ver que os engenheiros e administradores dessa grande construção trabalhavam em grandes salas, em locais cobertos e com mais conforto. As salas eram de vidro, pude observar de fora que o clima de trabalho era diferente. E que quem fazia aquela roda girar e o trabalho acontecer, tinha que encarar os climas intensos da cidade. Eram funcionários de empresas ditas terceirizadas, que cuidam de arranjar funcionários e negociam diretamente com os donos. 
Ao caminhar mais um pouco, via-se uma grande placa que dizia “você tem um sonho, nós temos a chave”. Em meio a inúmeros pensamentos refletia sobre os sonhos de cada um daqueles que cruzam nosso caminho na rua. Cada um destes possuíam uma razão para vender assim seu trabalho em troca de seu sustento. Muitas vezes não conseguem realizar esses sonhos ou acabam tendo que postergar os planos. Acabo de me lembrar de uma música do Chico que era mais ou menos assim “(...)Morreu na contramão atrapalhando o sábado/Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir/ A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir/ Por me deixar respirar, por me deixar existir”. E assim me recordo das condições que eles trabalham, dos seus salários, de suas famílias, de seus sonhos e como devem acontecer bem longe desses prédios que eles mesmos ajudam a construir. Alguns passos mais adiante já é possível ver seus rosto através das janelas dos ônibus, exaustos por mais um dia, seguindo cada um o seu rumo. O ônibus toma seu impiedoso rumo e some em meio a tantos outros veículos.
Sshhhhh! As luzes da cidade se apagam e logo outro dia se inicia.
Crônicas de um dia cinzento
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